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Caso Clínico: Suspeita de Mutismo Seletivo em Criança

Identificação do Paciente:

  • Nome: Sofia Martins (nome fictício)
  • Idade: 6 anos
  • Sexo: Feminino
  • Escolaridade: 1º ano do Ensino Fundamental
  • Encaminhamento: Feito pela professora após 4 meses de observação de ausência de fala na escola.

História Clínica e Relato Familiar

Queixa Principal:
“Minha filha não fala na escola, nem com os professores nem com os colegas. Em casa, é comunicativa e até extrovertida, mas fora do ambiente familiar fica completamente calada.” (Relato da mãe, Dalva Martins, 32 anos).

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História do Comportamento:

  • Desenvolvimento da Linguagem: Aquisição da fala dentro dos marcos esperados, sem atrasos. Aos 2 anos já formava frases completas.
  • Início dos Sintomas: Aos 4 anos, na educação infantil, a professora notou que Sofia não respondia verbalmente, mas comunicava-se com gestos ou expressões faciais. A família acreditava que era “timidez”.
  • Contextos Afetados: Escola, festas infantis, consultas médicas e interações com pessoas fora do núcleo familiar próximo (avós, tios).
  • Comportamento em Casa: Descrita como “falante”, brinca com o irmão mais novo (4 anos), faz perguntas e expressa desejos verbalmente.

Fatores Desencadeantes/Estressores:

  • Mudança de escola aos 5 anos (devido à transferência de cidade).
  • Evento traumático relatado: Sofia presenciou uma briga entre colegas no parque, onde uma criança gritou com ela (aos 5 anos). Desde então, a recusa em falar na escola intensificou-se.

Histórico Médico e Psicológico:

  • Sem comorbidades neurológicas ou diagnósticos prévios.
  • Avaliação fonoaudiológica descartou alterações de linguagem ou processamento auditivo.
  • Nenhum uso de medicação contínua.

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Observação Escolar (Relato da Professora)

  • Sofia não responde verbalmente quando chamada, mas realiza tarefas escolares sem dificuldade.
  • Comunica-se por gestos (acena “sim” ou “não”, aponta para objetos).
  • Em atividades em grupo, participa silenciosamente, mas demonstra interesse.
  • Já foi observada sussurrando para uma colega próxima, mas apenas uma vez.

Avaliação Psicopedagógica e Hipótese Diagnóstica

Critérios Observados (DSM-5/ CID-11):

  1. Incapacidade persistente de falar em situações sociais específicas (escola, ambientes públicos), apesar de falar em outros contextos.
  2. Duração superior a 1 mês (excluindo o primeiro mês de adaptação escolar).
  3. Prejuízo significativo: Dificuldade em participar de atividades escolares que exigem comunicação oral.
  4. Não atribuível a: Transtorno de comunicação (e.g., gagueira), autismo ou desconforto com a língua falada no ambiente.

Hipótese Diagnóstica Primária:

  • Mutismo Seletivo (F94.0 – CID-11).
  • Diagnósticos Diferenciais a Investigar:
    • Ansiedade social (Transtorno de Ansiedade Social).
    • Trauma específico (Transtorno de Estresse Pós-Traumático).

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Plano de Intervenção Multidisciplinar

  1. Abordagem Cognitivo-Comportamental (TCC):
    • Exposição gradual a situações de fala (começar com gravações de voz em casa, depois com pessoas conhecidas em ambiente neutro).
    • Reforço positivo por tentativas de comunicação não-verbal (e.g., cartões com emojis).
  2. Orientações à Família e Escola:
    • Evitar pressionar ou punir a criança pelo silêncio.
    • Criar “combinados” não-verbais (e.g., sino para pedir ajuda).
    • Professora deve incluir Sofia em atividades lúdicas com baixa demanda verbal (teatro de fantoches, desenhos).
  3. Acompanhamento Psiquiátrico (se necessário):
    • Avaliar necessidade de ansiolíticos em casos de ansiedade incapacitante.
  4. Monitoramento:
    • Diário de comunicação (registrar avanços em contextos específicos).
    • Reavaliação em 3 meses.

Prognóstico

  • Favorável, com intervenção precoce.
  • Fatores positivos: Bom vínculo familiar, ausência de atrasos globais, motivação para interagir não-verbalmente.

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Observações Finais:
Sofia apresenta um quadro clássico de mutismo seletivo, com manifestações contextuais e prejuízo funcional. A abordagem deve ser colaborativa (família-escola-terapeutas), priorizando a redução da ansiedade e o fortalecimento da autoeficácia comunicativa.

Dra. Daliane Oliveira
Psicopedagoga | Escritora do Blog PsiquEasy

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