A Queixa e suas Diversas Analogias
Essas analogias ajudam a traduzir um conceito complexo em algo tangível, destacando a importância da investigação etiológica e da visão sistêmica que são marcas da atuação psicopedagógica e Neuropsicopedagógica de qualidade.
1. A Árvore Doente (ou com Poucos Frutos)

- A Queixa: Os frutos pequenos, escassos ou caídos antes da hora. Ou ainda, as folhas amareladas e os galhos secos. Na criança, é a nota baixa, a lentidão na leitura, a recusa em fazer a lição, a falta de atenção.
- A Investigação Necessária: Para tratar a árvore, não adianta apenas pintar o tronco ou colar os frutos de volta. É preciso investigar o solo (o ambiente familiar/escolar: é nutritivo ou árido?). Analisar as raízes (a base emocional e a autoestima: estão saudáveis ou sufocadas?). Verificar nutrientes e pragas (estímulos adequados, possíveis “pragas” como ansiedade, bullying, métodos de ensino inadequados). A dificuldade visível é só o sintoma de um desequilíbrio em um sistema mais complexo.
2. O Alarme de Incêndio Tocando

- A Queixa: O som estridente e incessante do alarme. É o que incomoda, alerta e exige uma ação imediata. É o comportamento disruptivo na sala, a agressividade, o choro durante as avaliações.
- A Investigação Necessária: A função do profissional não é apenas arrancar a bateria do alarme para silenciá-lo (uma punição ou medida paliativa). É preciso percorrer todo o prédio para encontrar o foco do incêndio. Onde começou a fumaça? Pode ser um “curto-circuito” de frustrações acumuladas, uma “fagulha” de humilhação, um “superaquecimento” por pressão excessiva. Silenciar o alarme sem apagar o fogo só torna o perigo maior.
3. A Febre

- A Queixa: O termômetro marcando 39°C. É o sinal claro, mensurável e preocupante de que algo não vai bem. Na aprendizagem, é o diagnóstico fechado (ex.: “tem TDAH”), a dificuldade específica (“não decora tabuada”).
- A Investigação Necessária: A febre em si não é a doença, é a resposta do corpo a uma infecção ou desequilíbrio. O médico não trata apenas a febre com antitérmico; ele busca a causa: é uma infecção de garganta (questão emocional?), uma virose (ambiente tóxico?), uma inflamação (método de ensino que não “se encaixa”?). Da mesma forma, o psicopedagogo deve ir além do “rótulo” da dificuldade para entender qual “infecção” no processo de aprender está causando aquele “sintoma”.
4. A Ponta de um Fio Desencapado

- A Queixa: O choque ao tocar no fio. É a reação imediata, dolorosa e evidente de que há um problema. É o “não sei”, o “não consigo”, o branco na hora da prova.
- A Investigação Necessária: A solução não é apenas colar uma fita isolante na pontinha (uma ajuda pontual). É preciso seguir todo o percurso do fio para encontrar onde a capa de proteção se rompeu. Essa “capa” pode ser a autoconfiança, que se desgastou com críticas; ou a compreensão de um conceito-base, que ficou falha; ou o vínculo com o aprendizado, que foi rompido. O choque é só o ponto final de uma falha no percurso.
5. O GPS com Rota Bloqueada

- A Queixa: A mensagem constante “recalculando rota…” ou o carro parado, sem saber para onde ir. É a falta de estratégia, a desorganização, a sensação de estar perdido diante de um novo conteúdo.
- A Investigação Necessária: O problema não está apenas no carro (no aluno). É preciso verificar: o destino foi inserido corretamente? (O objetivo de aprendizagem está claro?). Há um desvio ou um buraco na estrada principal? (O caminho natural de compreensão foi interrompido por uma experiência traumática?). O mapa de base está desatualizado? (As ferramentas cognitivas anteriores são suficientes para essa nova jornada?). A função do profissional é ajudar a mapear os obstáculos e, muitas vezes, construir novos caminhos neuronais (“estradas alternativas”) para chegar ao destino.
“Assim como um médico trata a causa da febre, um jardineiro cuida do solo da árvore e um técnico conserta o fio desde a origem, o psicopedagogo e demais profissionais da aprendizagem têm o compromisso de ser detectives do processo. A queixa é nosso chamado, nosso caso a ser solucionado. Nosso trabalho heroico e transformador acontece nas profundezas, na história, nos porquês. É lá que desarmamos as verdadeiras causas e construímos, de fato, uma nova possibilidade de aprender.” Pp. Daliane Oliveira 2025
