NeuropsicopedagogiaPsicopedagogia

Caso Clínico: “O Segredo do Caderno em Branco”

Queixa Inicial:
“Maria, 10 anos, não consegue produzir textos escritos. Seu caderno está sempre em branco, apesar de ter boas ideias oralmente.”


Processo Investigativo (10 Sessões)

Sessão 1: Entrevista Inicial com os Pais

Técnica: Linha do Tempo Educacional

  • Descobertas:
    • Atraso na aquisição da escrita desde o 1º ano
    • Histórico de cobranças excessivas por “letra perfeita”
    • Ótimo desempenho em contação de histórias orais

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Sessão 2: Avaliação da Motricidade Fina

Atividades:

  1. Teste de Pressão do Lápis (folha carbono) → Pressão excessiva
  2. Coordenação Bilateral (dobrar papel e recortar) → Dificuldades
  3. Velocidade de Escrita (cópia de texto) → 3 palavras/minuto (padrão esperado: 8-10)

Sessão 3: Análise de Produções Espontâneas

Tarefa: “Desenhe e escreva sobre seu fim de semana”

  • Padrões:
    • Desenho detalhado da família no parque
    • Apenas 2 palavras escritas (“eu fui”) com letra trêmula

Sessão 4: Avaliação da Consciência Fonológica

Testes:

  • Rimas: 80% de acertos
  • Segmentação silábica: 90%
  • Ditado: 5/20 palavras corretas
  • Dado crucial: Erros por substituição de letras com formas similares (b/d, p/q)

Sessão 5: Avaliação Postural e de Preensão

Observações:

  • Postura curvada sobre o caderno
  • Preensão em punho
  • Tremor visível durante a escrita
  • Registro fotográfico comparativo: Antes/durante a escrita

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Sessão 6: Entrevista com a Criança (Método dos 3 Porquês)

  1. “Por que você não gosta de escrever?” → “Minha mão dói”
  2. “Por que sua mão dói?” → “Tenho que apertar muito pra ficar bonito”
  3. “Por que precisa ficar bonito?” → “A professora diz que feio não vale”

Sessão 7: Avaliação da Autoestima

Técnica: Escala de Autoconceito Infantil (versão pictórica)

  • Áreas mais afetadas:
    • Autoconceito acadêmico: 20%
    • Autoconceito social: 80%

Sessão 8: Avaliação da Memória de Trabalho

Tarefas:

  1. Repetição de números em ordem inversa → 3 dígitos (esperado: 5)
  2. História com detalhes para recordação → Lembrou 60% dos elementos visuais, 20% dos verbais

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Sessão 9: Integração Multidisciplinar

Consultas com:

  • Terapeuta ocupacional → Disgrafia motora
  • Fonoaudiólogo → Processamento visoespacial preservado
  • Psicólogo → Ansiedade de desempenho

Sessão 10: Hipótese Diagnóstica Final

Conclusão:

  1. Disgrafia Mista (motora e de organização espacial)
  2. Transtorno de Ansiedade Escolar secundário
  3. Dificuldade Específica na Produção Textual

Parecer:
A recusa em escrever é resultado da convergência entre: dificuldades motoras, cobranças inadequadas e estratégias compensatórias desenvolvidas. Não se trata de falta de capacidade, mas de um sistema que não acomodou suas necessidades específicas.”


Plano de Intervenção Personalizado

1. Adaptações Imediatas (Escola)

  • Substituição temporária por produções orais gravadas
  • Uso de teclado para textos longos
  • Folhas com pauta ampliada e canetas de ponta grossa

2. Terapia Psicopedagógica

Objetivos:

  • Recondicionamento motor:
    • Exercícios com pincel grosso em superfícies verticais
    • Escrita em areia para reduzir pressão
  • Organização textual:
    • Storyboards com desenhos → legendas → textos
    • Software de mapeamento mental

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3. Acompanhamento Emocional

  • Técnicas de relaxamento pré-escrita
  • Diário de conquistas (focado no processo, não no produto)
  • Reuniões mensais com a professora para ajustes

Materiais Utilizados no Processo

FinalidadeFerramenta
Avaliação MotoraDinamômetro digital, folhas carbono
Regulação EmocionalTermômetro de ansiedade visual, massinha terapêutica
Produção TextualGravador de voz, software de ditado por voz

Resultados Esperados em 6 Meses

  1. Motor: Aumento para 6 palavras/minuto com menor pressão
  2. Acadêmico: Produção de textos curtos (5-6 frases) com suporte visual
  3. Emocional: Redução de 50% nos comportamentos de evitação

Frase da Maria na Última Sessão:
“Agora sei que minhas histórias são boas, mesmo quando minhas letras fugem do lugar.”


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Lições para Profissionais

  1. Sinais de Alerta:
    • Discrepância entre produção oral/escrita
    • Padrão de evitação consistente
    • Queixas físicas associadas à escrita
  2. Erros a Evitar:
    • Atribuir a “preguiça” ou “falta de esforço”
    • Focar apenas na caligrafia sem investigar causas
  3. Dica Ouro:
    “Quando uma criança resiste a escrever, ela não está desafiando você – está pedindo ajuda de forma não verbal.”

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