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Estudo de Caso: Quando a Aprendizagem Desaparece – Investigando Declínio Cognitivo Adolescente

Esse não é mais um estudo de caso comum, é um atendimento feito a partir do Protocolo Homes-Oliver criado por mim – Pp. Daliane Oliveira e eu realmente espero que você profissional que analisar esse estudo de caso possa compartilhar comigo o que achou e se esse protocolo faz sentido pra você. Para que fique bem claro esse protocolo segue a linha de observação Forense.

Apresentação do Caso

Paciente: Rafael, 16 anos
Encaminhamento: Escola particular, 1º ano do Ensino Médio
Queixa principal: “Queda acentuada no rendimento escolar nos últimos 8 meses, com dificuldades em disciplinas que antes dominava”

Contexto inicial:

  • Histórico de aluno acima da média (notas entre 8 e 9 até o 9º ano)
  • Atual desempenho: notas entre 4 e 6, risco de reprovação em 3 disciplinas
  • Relato dos pais: “Parece que desaprendeu matemática”
  • Relato do aluno: “Não entra na minha cabeça mais”

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Processo Investigativo Sistemático

Etapa 1: Anamnese Detalhada e Cronologia

Linha do tempo construída:

  • Até 15 anos: Desempenho escolar estável, participante de grupo de robótica
  • 15 anos e 4 meses: Ingresso no Ensino Médio, mudança para escola mais exigente
  • 15 anos e 6 meses: Primeiras queixas de “cansaço para estudar”
  • 15 anos e 10 meses: Primeira recuperação em matemática e física
  • 16 anos (atual): Dificuldades generalizadas, principalmente em exatas

Dados relevantes colhidos:

  • Sono: 5-6 horas por noite (relata insônia inicial)
  • Alimentação: Irregular, muitas refeições por delivery
  • Atividade física: Praticava futebol 3x/semana, abandonou há 6 meses
  • Vida social: Reduzida, prefere jogar online
  • Saúde: Sem histórico médico relevante

Etapa 2: Avaliação Pedagógica Específica

Testes aplicados:

  1. Avaliação de pré-requisitos em matemática: Dificuldades em operações básicas que antes dominava
  2. Análise de produções escolares: Erros conceituais, não apenas descuidos
  3. Teste de raciocínio lógico: Preservado, mas execução lenta
  4. Prova de atenção sustentada: Quedas significativas após 25 minutos

Padrão identificado:

  • Matemática: Dificuldade com álgebra (antes era sua melhor área)
  • Física: Incapacidade de aplicar fórmulas em problemas contextuais
  • Português: Leitura preservada, produção escrita empobrecida
  • Processamento geral: Lentidão, necessidade de repetição de instruções

Etapa 3: Investigação Médica Colaborativa

Encaminhamentos realizados:

  1. Oftalmologista: Acuidade visual preservada
  2. Otorrinolaringologista: Audição normal
  3. Neurologista: Exame físico neurológico sem alterações
  4. Endocrinologista: Avaliação solicitada devido ao cansaço

Exames complementares:

  • Hemograma completo: Normal
  • TSH e T4 livre: TSH elevado (6,8 mUI/L)
  • Vitamina D: Deficiência moderada (18 ng/mL)
  • Ferro e ferritina: Limítrofes

Etapa 4: Avaliação Psicossocial

Entrevista familiar estruturada revelou:

  • Pais: Ambos profissionais bem-sucedidos, expectativas altas
  • Dinâmica familiar: Conflitos frequentes sobre notas e futuro profissional
  • Pressão: Inscrição forçada em curso pré-vestibular aos sábados
  • Mudança recente: Separaram quarto dos irmãos (agora tem quarto individual)

Avaliação emocional:

  • Escala de depressão: Pontuação moderada
  • Escala de ansiedade: Pontuação elevada
  • Autoestima: Comprometida
  • Frase significativa: “Se não passar em medicina, serei um fracasso”

Etapa 5: Observação do Ambiente Escolar

Visita à escola (com autorização):

  • Sala de aula: 35 alunos, ambiente competitivo
  • Professores: Focados no vestibular, pouco suporte individual
  • Rafael na aula: Desmotivado, distraído, evitava participar
  • Relato do professor de matemática: “Ele parece bloqueado, como se tivesse medo de errar”

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Hipóteses Diagnósticas em Competição

  1. Hipótese médica: Hipotireoidismo subclínico + deficiência de vitamina D
  2. Hipótese psicológica: Ansiedade de desempenho + possível depressão
  3. Hipótese pedagógica: Lacunas de base não identificadas + método de estudo inadequado
  4. Hipótese social: Pressão familiar excessiva + mudanças na rotina
  5. Hipótese cognitiva: Déficit de atenção não diagnosticado

Teste de Hipóteses:

Experimento 1: Em ambiente sem pressão, com tempo ilimitado, Rafael resolve problemas matemáticos complexos com 80% de acerto.

Experimento 2: Simulado de prova com tempo cronometrado: erros aumentam 300%, relata “branco”.

Conclusão: O desempenho varia radicalmente com as condições emocionais e temporais.


Diagnóstico Integrado

Condições identificadas:

  1. Hipotireoidismo subclínico (causando fadiga e lentificação cognitiva)
  2. Deficiência de vitamina D (associada a fadiga e alterações de humor)
  3. Ansiedade de desempenho com características fóbicas (especialmente para matemática)
  4. Síndrome do impostor desenvolvida secundariamente
  5. Métodos de estudo ineficientes para o novo nível de exigência
  6. Pressão psicossocial excessiva

Mecanismo proposto:
O hipotireoidismo subclínico gerou cansaço e lentidão → dificuldades iniciais em acompanhar o ritmo do EM → ansiedade crescente → evitação do estudo → lacunas acumuladas → pior desempenho → mais ansiedade → ciclo vicioso estabelecido.


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Plano de Intervenção Multidimensional

1. Tratamento Médico (coordenado com endocrinologista)

  • Reposição hormonal para tireoide
  • Suplementação de vitamina D
  • Acompanhamento trimestral dos níveis hormonais
  • Orientação sobre sono e alimentação

2. Intervenção Psicopedagógica

Reensino estratégico:

  • Identificação e preenchimento de lacunas específicas em matemática
  • Ensino de métodos de estudo ativos (interleaving, prática espaçada)
  • Treino de resolução de problemas sob pressão de tempo
  • Uso de organizadores gráficos para conteúdos complexos

Adaptações escolares:

  • Tempo estendido para provas (enquanto trata ansiedade)
  • Avaliação por meio de múltiplos instrumentos (não apenas provas)
  • Permissão para uso de fórmulas em provas (foco no raciocínio)

3. Apoio Psicológico

  • Terapia cognitivo-comportamental para ansiedade
  • Técnicas de relaxamento e mindfulness
  • Reestruturação cognitiva sobre fracasso e sucesso
  • Redução do perfeccionismo disfuncional

4. Orientação Familiar

  • Sessões psicoeducacionais sobre desenvolvimento adolescente
  • Redefinição de expectativas realistas
  • Criação de ambiente de apoio (não de pressão)
  • Estabelecimento de rotina saudável: sono, alimentação, lazer

5. Reintegração Social

  • Retorno gradual às atividades esportivas
  • Participação em grupo de estudo cooperativo
  • Limitação de horas em jogos online
  • Incentivo a hobbies não-acadêmicos

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Progresso e Monitoramento

Marcadores estabelecidos:

  1. Biomédico: Normalização dos níveis hormonais
  2. Acadêmico: Melhoria gradual (objetivo: notas ≥7)
  3. Emocional: Redução dos sintomas de ansiedade
  4. Comportamental: Retorno às atividades de lazer

Avaliação em 4 meses:

  • TSH: Normalizado (2,1 mUI/L)
  • Vitamina D: Níveis adequados (35 ng/mL)
  • Notas: Melhoria para 6,5-7,5
  • Ansiedade: Redução de 60% nos sintomas
  • Relato do aluno: “Consigo estudar sem entrar em pânico”

Avaliação em 8 meses:

  • Desempenho acadêmico: Estável entre 7 e 8
  • Escolha profissional: Optou por Engenharia (não Medicina)
  • Autoavaliação: “Aprendi a lidar melhor com pressão”
  • Família: Menos focada em notas, mais no bem-estar

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Lições para a Prática Profissional

Protocolo Investigativo para Declínio Cognitivo Adolescente:

  1. Sempre investigar causas orgânicas primeiro: Hormonais, nutricionais, do sono
  2. Mapear mudanças contextuais: Transições escolares, familiares, sociais
  3. Avaliar métodos de estudo: O que funcionava antes pode não funcionar agora
  4. Considerar a interação fatores: Raramente é uma causa única
  5. Incluir a família no processo: Muitas vezes são parte da solução e do problema

Sinais de Alerta:

  • Queda abrupta em disciplinas antes dominadas
  • Relatos de “branco” na hora da prova
  • Abandono de atividades antes prazerosas
  • Mudanças nos padrões de sono e alimentação
  • Discursos autodepreciativos sobre capacidades

Abordagem Recomendada:

  1. Avaliação médica completa antes de intervenções pedagógicas intensivas
  2. Colaboração interprofissional como regra, não exceção
  3. Intervenções graduais com monitoramento constante
  4. Foco no processo mais que nos resultados imediatos
  5. Empoderamento do adolescente como agente do próprio aprendizado

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O caso de Rafael ilustra como declínios no rendimento escolar raramente têm causas simples. A investigação cuidadosa revelou uma teia de fatores médicos, psicológicos, pedagógicos e sociais interconectados.

Aprendizado central: Um psicopedagogo ou neuropsicopedagogo deve ser um investigador de sistemas, capaz de:

  1. Identificar pistas em múltiplos níveis
  2. Coordenar uma rede de profissionais
  3. Diferenciar causas primárias de consequências secundárias
  4. Intervir de forma integrada e personalizada

Pergunta final para reflexão: Quantos adolescentes são rotulados como “preguiçosos” ou “desmotivados” quando na verdade têm condições tratáveis que afetam seu funcionamento cognitivo?

Este caso é baseado em situações clínicas reais, com dados recombinados e anonimizados para preservar sigilo e servir como material de estudo profissional.

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