Caso Clínico: “Quando as Letras Fogem da Boca: Entendendo a Dislalia na Infância”
💁Por que este caso é relevante?
- A Dislalia é o transtorno de fala mais comum em crianças pré-escolares (atinge ~10%).
- Mostra a intersecção entre dificuldade motora e emocional (bullying, autoestima).
- Aborda estratégias práticas para pais e professores.
💁Dados do Paciente
- Nome: João Pedro Silva (nome fictício)
- Idade: 5 anos e 3 meses
- Sexo: Masculino
- Escolaridade: Educação Infantil (Pré-II)
- Encaminhamento: Feito pela professora devido a “fala incompreensível” e dificuldade de interação com os colegas.
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💁História Clínica e Relato Familiar
Queixa Principal:
“Meu filho fala tudo errado, ninguém entende ele direito. As crianças da escola riem, e ele está ficando triste.” (Relato da mãe, Mariana Silva, 28 anos).
💁História da Fala e Linguagem:
- Primeiras palavras: Aos 14 meses (“mamã”, “papá”).
- Frase simples: Aos 2 anos (“qué água”).
- Padrão atual de fala (aos 5 anos):
- Substitui fonemas:
- /r/ → /l/: “calu” (carro), “polato” (prato).
- /s/ → /t/: “tápato” (sapato), “tola” (cola).
- Omite sílabas finais: “baci” (balde), “peie” (peixe).
- Fala rápida e “engolindo” sons.
- Substitui fonemas:
💁Compreensão e Outras Habilidades:
- Entende comandos complexos (“Pega o livro vermelho embaixo da mesa”).
- Nenhum atraso cognitivo ou social (brinca, faz amigos, mas evita falar em grupo).
💁Histórico Relevante:
- Otites frequentes até os 4 anos (possível impacto na discriminação auditiva).
- Nenhum trauma ou atraso global do desenvolvimento.
- Família sem histórico de transtornos de linguagem.
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💁Avaliação Fonoaudiológica
💁Testes e Observações:
- Avaliação Articulatória (ABFW – Teste de Linguagem Infantil):
- Erros consistentes em fonemas /r/, /s/, /l/.
- Inteligibilidade de fala: 60% (leve-moderado prejuízo).
- Audiometria: Limiares normais (descarta perda auditiva).
- Exame dos Órgãos Fonoarticulatórios:
- Tônus muscular normal (língua, lábios, bochechas).
- Mobilidade preservada, sem frenum lingual curto (“língua presa”).
💁Critérios para Dislalia (CID-10 – F80.0):
- Distorção ou omissão de fonemas além do esperado para a idade.
- Sem déficit neurológico, auditivo ou cognitivo que justifique.
- Prejuízo social ou acadêmico (ex.: bullying, frustração).
💁Hipótese Diagnóstica Primária:
- Dislalia Fonética (dificuldade na produção de sons específicos).
- Diagnósticos Diferenciais:
- Apraxia de Fala Infantil (avaliar se há inconsistência nos erros).
- Atraso de Linguagem (se houvesse prejuízo na compreensão).
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💁Plano de Intervenção
1. Terapia Fonoaudiológica (2x/semana):
- Treino articulatório: Exercícios para /r/ e /s/ com espátula e espelho.
- Consciência fonológica: Jogos com rimas (“lápis, tapis, chapéu”).
- Controle da velocidade da fala: Método “fala de tartaruga” (pausas).
2. Orientação à Família e Escola:
- Em casa:
- Não corrigir diretamente (“Fala direito!”), mas modelar (“Sim, é um carro!”).
- Ler livros com sons-alvo (ex.: “O Rato Roeu a Roupa”).
- Na escola:
- Evitar expor João Pedro em situações de fala pública (ex.: apresentações).
- Incentivar comunicação não-verbal (desenhos, gestos) para reduzir ansiedade.
3. Monitoramento:
- Reavaliação a cada 3 meses com teste de inteligibilidade.
- Espera-se 90% de acertos em /r/ e /s/ em 12 meses.
💁Destaque Emocional: O Impacto da Dislalia
- João Pedro desenhou uma cena de crianças rindo dele durante a avaliação.
- Frase espontânea: “Eu quelo falar bonito” (“quero falar bonito”).
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💁Prognóstico
- Excelente, pois a Dislalia tem alta taxa de resolução com terapia.
- Fatores positivos: Família engajada, ausência de comorbidades.
Dra. Daliane Oliveira
Psicopedagoga | Escritora do Blog PsiquEasy