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O Grande Equívoco: A Superdotação é Sobre Desempenho, Não Sobre Potencial

A maioria dos profissionais ainda busca o “aluno nota 10”. Este é o primeiro e maior erro. Eles desconhecem que:

  • A Superdotação é Neurodivergência, não um Superpoder. O cérebro da pessoa com AH/SD funciona de maneira diferente, com uma rede de neurônios mais densa e uma atividade cerebral mais intensa (o que explica a superexcitabilidade). Isso não é apenas “ser inteligente”; é uma forma diferente de ser e processar o mundo. O sofrimento de um superdotado subestimulado ou incompreendido é tão real quanto o de qualquer outra neurodivergência.
  • O “Gifted Burnout” (Esgotamento do Superdotado) é real e comum. Profissionais de saúde mental muitas vezes não conectam a depressão, a ansiedade e a síndrome do impostor em adultos à sua superdotação não reconhecida na infância. A pessoa passa a vida se cobrando para “corresponder ao potencial” que sempre lhe foi atribuído, sem nunca ter recebido as ferramentas para lidar com sua forma de ser.
  • A Dupla Excepcionalidade (2e) é a regra, não a exceção. Muitos superdotados têm concomitantemente TDAH, Dislexia, Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou transtornos de ansiedade. A superdotação mascara a dificuldade, e a dificuldade mascara a superdotação. O resultado? Crianças brillantes que não performam na escola são vistas como “preguiçosas” ou “desafiadoras”, quando, na verdade, sua necessidade não está sendo atendida. O profissional que só enxerga o TDAH pode estar negligenciando a mente brilhante que precisa de estímulo.

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  • A Assincronia é o cerne da questão. A famosa definição da Columbus Group é a mais precisa e a menos conhecida: a superdotação é um desenvolvimento assíncrono. Isso significa que a capacidade cognitiva avançada coexiste com uma maturidade emocional e física correspondente à idade cronológica. Uma criança de 8 anos que discute filosofia pode ter um colapso emocional porque perdeu um lápis. Isso não é imaturidade; é a assincronia em ação. Profissionais interpretam isso como “instabilidade emocional” sem entender a causa.
  • O Talento Não é Linear e Pode Ser Específico. A escola busca a excelência em todas as áreas, mas muitas vezes a superdotação é altamente específica. Podemos ter um prodígio da música que tem dificuldades em matemática, ou um jovem com habilidades mecânicas excepcionais que não se interessa por literatura. O modelo tradicional de “triagem” por notas altas em tudo falha com esses perfis.
  • O Tédio Crônico é Debilitante. Para a mente superdotada, a repetição e a subestimulação não são apenas chatas; são psicologicamente dolorosas. Isso pode se manifestar como desatenção (simulando TDAH), comportamentos de oposição ou até mesmo apatia e depressão. O aluno não é “desinteressado”; o currículo é irrelevante para a velocidade e profundidade do seu pensamento.

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  • Muitos Superdotados São Introvertidos e/ou Altamente Sensíveis (PAS). O estereótipo do “líder carismático” é danoso. Muitas crianças superdotadas são quietas, observadoras, profundamente reflexivas e têm uma sensibilidade sensorial aguçada (odeiam etiquetas de roupas, sons altos, etc.). Elas passam despercebidas porque não se levantam para dar a resposta.
  • A Identificação Tardia é um Luto. Adultos que descobrem sua superdotação tardiamente passam por um processo complexo de luto e redescoberta. Eles revisitam toda a sua vida – as dificuldades, os sentimentos de inadequação, os diagnósticos errados – sob uma nova luz. Profissionais de saúde mental não estão preparados para acolher e guiar esse processo.

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Como os Profissionais Podem Atuar Melhor:

  • Educadores: Busquem a potencialidade, não a performance. Observem a curiosidade incomum, a paixão por temas específicos, o senso de humor ácido, a sensibilidade à injustiça. Ofereçam compactação curricular (avançar no que já sabem) e enriquecimento (profundidade em áreas de interesse).
  • Psicólogos e Psicopedagogos: Investiguem a raiz dos comportamentos. A desatenção é por tédio? A ansiedade vem da pressão de ser “perfeito”? Ao avaliar uma dificuldade de aprendizagem, considerem a possibilidade de dupla excepcionalidade. Usem ferramentas que medem o potencial, não apenas o desempenho.

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