NeuropsicopedagogiaPsicopedagogia

Caso Clínico: “O Quebra-Cabeça da Fala – Quando o Cérebro Sabe, mas a Boca não Obedece”

  • A Dispaxia da Fala é pouco diagnosticada e frequentemente confundida com “apenas” um atraso.
  • Mostra a importância da intervenção precoce e especializada.
  • Aborda estratégias práticas para pais e professores.

💁DADOS DO PACIENTE

  • Nome: Miguel Souza (nome fictício)
  • Idade: 5 anos e 8 meses
  • Sexo: Masculino
  • Escolaridade: Educação Infantil (Pré-II)
  • Encaminhamento: Pediatra e fonoaudióloga escolar, após 1 ano de terapia fonoaudiológica sem progresso significativo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


Advertisement

💁HISTÓRIA CLÍNICA E RELATO FAMILIAR

Queixa Principal:
“O Miguel parece entender tudo, mas quando tenta falar, as palavras saem erradas. Até nós, da família, temos dificuldade para entendê-lo.” (Relato da mãe, Carla Souza, 30 anos).

História do Desenvolvimento da Fala:

  • Primeiras palavras: Aos 2 anos (“mamã”, “papá”), mas com pronúncia distorcida.
  • Aos 3 anos: Frases curtas (“qué água” → “té áua”), mas inconsistentes (às vezes dizia “água” corretamente).
  • Padrão atual de fala:
    • Substituições inconsistentes: “cachorro” → “tató” / “pachorro” / “cacó”.
    • Dificuldade em sequências motoras: “paralelepípedo” → “palelépedo”.
    • Fala lenta e esforçada, com pausas frequentes.

Outras Habilidades:

  • Compreensão: Excelente (segue comandos complexos).
  • Não verbais:
    • Boa coordenação motora grossa (corre, pula).
    • Dificuldades motoras finas (dificuldade para abotoar roupas).

Histórico Relevante:

  • Nenhum atraso global do desenvolvimento.
  • Família sem histórico de transtornos de linguagem.
  • Avaliação neurológica: Normal (descarta paralisia cerebral ou lesões).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


Advertisement

💁AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA

Testes e Observações:

  1. Protocolo de Avaliação de Fala (ABFW):
    • Inconsistência nos erros (a mesma palavra é pronunciada de formas diferentes).
    • Dificuldade em repetir palavras longas (“estetoscópio” → “tecotócio”).
  2. Avaliação Motora Oral:
    • Dificuldade em imitar movimentos da língua/lábios (ex.: “vibrar os lábios como um motor”).
    • Tônus muscular normal, mas planejamento motor prejudicado.
  3. Teste de Consciência Fonológica:
    • Dificuldade em segmentar sílabas (“Quantos pedaços tem ‘banana’?”).

Critérios para Dispraxia da Fala (DSM-5 – CID-11):

  1. Dificuldade persistente na programação motora da fala.
  2. Inconsistência nos erros articulatórios.
  3. Prejuízo na inteligibilidade da fala.
  4. Não atribuível a condições neurológicas ou estruturais.

Hipótese Diagnóstica Primária:

  • Dispraxia da Fala na Infância (F80.0).
  • Diagnósticos Diferenciais:
    • Dislalia (descartada pela inconsistência dos erros).
    • TEA (descartado pela boa comunicação não verbal e interação social).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


Advertisement

💁PLANO DE INTERVENÇÃO

1. Terapia Fonoaudiológica Especializada (3x/semana):

  • Abordagem PROMPT: Estímulo tátil-cinestésico para planejamento motor da fala.
  • Treino de Sequências Motoras:
    • Palavras-alvo com estruturas silábicas simples (CV – “pá”, “mãe”).
    • Progressão para estruturas complexas (CVCV – “casa”, “vovo”).
  • Jogos de Consciência Fonológica:
    • Batucar sílabas com instrumentos musicais.

2. Adaptações Escolares:

  • Uso de Comunicação Alternativa (CAS):
    • Cartões com imagens para necessidades imediatas (ex.: “banheiro”, “água”).
  • Evitar correções diretas (“Fala direito!”), preferir modelagem (“Você quis dizer ‘cachorro’?”).

3. Orientação à Família:

  • Diário de Fala: Registrar palavras novas e contextos de sucesso.
  • Atividades Lúdicas:
    • Cantar músicas com gestos (“Atirei o pau no gato”).
    • Soprar bolhas de sabão para treinar controle respiratório.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


Advertisement

💁DESTAQUE EMOCIONAL: O SILÊNCIO FRUSTRADO

  • Miguel desenhou uma boca fechada com um cadeado durante a avaliação.
  • Frase da mãe: “Ele sabe que as pessoas não entendem, e isso o deixa furioso.”

💁PROGNÓSTICO

  • Progresso lento, mas contínuo (espera-se 70% de inteligibilidade em 2 anos).
  • Fatores positivos: Família engajada, boa cognição.

Dra. Daliane Oliveira
Psicopedagoga | Autora do Blog PsiquEasy

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *