Diagnóstico Psicopedagógico
“Diagnóstico Psicopedagógico sob um novo olhar “
O diagnóstico psicopedagógico é um processo científico de investigação que parte do levantamento de hipóteses que serão confirmadas ou não ao longo dos passos utilizados na busca da compreensão da forma de aprender do sujeito e dos desvios ou obstáculos que estão ocorrendo em seu processo de aprendizagem.
A partir das hipoteses iniciais, é possível estabelecer um plano de avaliação psicopedagógica definindo-se os processos que serão utilizados na coleta de dados para se chegar a compreensão diagnóstica.
“Se no transcurso do diagnóstico ou do tratamento não conseguimos apaixonarmos por essa vida, nem pensá-la como um drama onde se está jogando este tipo de coisas que a mitologia põe em um relevo especial, mas que estão em todos os seres humanos, estaremos banalizando o sujeito. Não podemos curá-lo nem entendê-lo. Justamente a possibilidade de curá-lo,ou seja, de fazê-lo surgir como diferente, é facilitar seu trabalho de recriar-se como pessoa interessante. Que sinta que sua personalidade se diferencia das outras e tem um caminho próprio que é capaz de construir, que vislumbre uma possível escolha, certo grau de liberdade, ainda que seja no conhecimento (Sara Paín)”.
A tarefa diagnóstica envolve também a identificação e o reconhecimento das áreas de competência do sujeito.
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A “QUEIXA” ou motivo do Encaminhamento
O diagnóstico psicopedagógico inicia-se com uma “queixa” quanto ao aprendizado de uma criança ou adolescente. Esta ‘queixa” relaciona-se ao fato de que a aprendizagem “não vai bem” em algum aspecto.
Nesse caso, o psicopedagogo organiza os dados necessários para compreender o problema de aprendizagem, o significado do problema e sua causa.
A “queixa” apresentada pelos pais e/ou pela escola precisa ser analisada e compreendida nos seus diferentes significados.
É comum as queixas dos pais e dos professores serem assim expressas:
- “Essa criança não aprende nada”.
- “Ele não retém nada”.
- “Ele parece aprender num dia, mas no outro esquece tudo”.
- “Não tem racíocinio”.
- “Não tem interesse”.
- “Não quer aprender”.
Algumas vezes a “queixa” da escola apontada como o motivo manifesto do diagnóstico é repetida pelos pais, sem qualquer elaboração posterior. Ao longo do processo ela vai se transformando e se revelando de menor importância, ao mesmo tempo que vai surgindo um motivo latente que realmente mobilizou os pais para a consulta. (WEISS, 2007, p.47)
É fundamental que o psicopedagogo procure compreender o significado da queixa para os pais, para a escola e para o próprio sujeito.
Weiss (2007), sugere que durante a explicitação da “queixa” se inicie a reflexão sobre as duas vertentes dos problemas de aprendizagem: o sujeito e sua família e a própria escola em suas múltiplas facetas.
Entrevista com a professora e com a Equipe Pedagógica: Análise e Reflexão sobre a Escola
Ouvirn a “queixa” do (a) professsor(a) com uma atitude calma e acolhedora é fundamental para a psicopedagoga conhecer e compreender tanto as dificuldades da criança/do adolescente como as dificuldades do(a) professor(a).
Ouvir o ponto de vista do(a) professor(a) sobre as dificuldades de apresentadas por seu aluno pode ajudar o psicopedagogo a compreender as crenças e teorias de aprendizagem e de ensino do(a) professor(a), suas atitudes frente ao erro, ao não saber, seus sentimento em relação a um aluno que precisa de mais ajuda e que para ele(a) parece “muito dependente”; sua paciência com as dificuldades e com aluno; suas expectativas, seu nível de exigência; seu desejo ou não de trabalhar com o aluno que apresenta dificuldades na aprendizagem.
É de suma importância conhecer os sentimentos, expectativas e exigências do(a) professor(a) em relação à família do(s) aluno(s) que apresenta(m) problema de aprendizagem.
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Weiss (1997, p.15 propõe levantar algumas hipóteses:
1º) a criança, ao ingressar na escola já tinha algumas dificuldades para aprender e tal fato não foi observado pela escrita, ao longo dos anos;
2º) a dificuldade de aprendizagem da criança se agravou a longo da pré-escola e das séries iniciais, só sendo percebida pela escola por exemplo, quando chegou á 4ª série;
3º) a dificuldade de aprendizagem formou-se dentro do ambiente escolar, por ação inadequada da escola. Esta mesma escola passa penalizar o aluno, a exigir providências da família, sem assumir a sua participação direta no fato;
4º) a criança não tem dificuldades de aprendizagem, mas vive uma crise temporária que pode acarretar o fracasso escolar. Estas crises podem estar ligadas a alterações no sistema familiar ou escolar: mortes, mudanças residenciais, de escola, de professor, separação dos pais, etc. Muitas vezes a escola não sabe lidar com estas crises e agrava a situação, contribuindo memso para a formação de dificuldades na aprendizagem.
Ao analisar a história escolar da criança, Weiss (1997) recomenda que o psicopedagogo considere alguns aspectos como:
- A relação da criança á situação escolar, ao longo do tempo, não só na produção escolar, como nas relações afetivas com os colegas, os professores, etc.
- O funcionamento da escola: sua estrutura, ideologia, procedimentos – pedagógicos e avaliativos, ou seja, como realmente a escola produz o conhecimento. Esta análise envolve a avaliação da aprendizagem na escola, assim como da escola;
- A forma de avaliação dos alunos pela escola: É através dessa cobrança formal institucional, que são definidos parâmetros em relação aos quais a escola aponta “dificuldades de aprendizagem” em seus alunos e faz o seu conhecimento para diagnósticos psicopedagógicos; como o professor e a escola lidam com o erro. Na avaliação escolar feita através dos instrumentos usuais como provas, testes, trabalhos específicos, dentre muitos outros, existe uma questão básica a ser considerada que é “o erro” enquanto parte do processo de construção do conhecimento. O professor não pode considerar apenas o produto final, a palavra ou o número coocado. É necessário compreender o processo mental que o aluno usou nesse caso específico. Localizar a falha processual deve ser a preocupação maior do professor e do psicopedagogo.
A PRIMEIRA ENTREVISTA COM OS PAIS
A maior parte dos casos, o processo diagnóstico psicopedagógico inicia-se por uma entrevista com os pais ou responsáveis. Geralmente é solicitado que a presença da mãe e do pai, e quando criados por outras pessoas a presença dos adultos responsáveis pelo indíviduo. Mas é frequente que compareça só a mãe e pouquissímas vezes o pai, raramente os dois e constantemente os avós e (ou) tios. Qualquer uma dessas possíveis situações, assinala Aberastury (1982) é, em si mesma, reveladora do funcionamento familiar na relação com o filho.
No momento da entrevista, o psicopedagogo participa o menos possível, mas procura criar um clima acolhedor e compreensivo de modo a possibilitar que os pais expressem os motivos pelos quais buscaram o diagnóstico psicopedagógico. Para isso, o profissional ouve atentamente suas preocupações, dúvidas, anseios, dificuldades, reclamações, dentre outras fatores importantes para a análise do caso apresentado.
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A entrevista com os pais é uma ocasião única para o levantamento de hipóteses sobre aspectos fundamentais para o diagnóstico psicopedagógico, como sugere Pain (1985):
- O significado do sintoma na família;
- O significado do sistema para a família;
- Fantasias de doença e de cura e expectativas dos pais em relação ao diagnóstico e ao tratamento;
- Modalidades de comunicação entre o casal e a dinâmica familiar;
Na entrevista com os pais procura-se obter dados para compreender como intervêm os diferentes fatores relacionados com a aprendizagem como:
- Motivo da procura pelo diagnóstico psicopedagógico (a queixa);
- História da criança;
- Desenvolvimento motor, da linguagem, de hábitos (alimentação, sono, controle esfincteriano, independência pessoal);
- História escolar;
- Aprendizagem;
- Um dia de vida: um domingo ou feriado, o dia do aniversário;
- A relação dos pais entre si, com os filhos e com o meio familiar.
O modelo de entrevista com os pais geralmente utilizado na clínica psicopedagógica pode servir como referência para o psicopedagógico na própria escola, por solicitação do(a) professor(a) ou dos pais.
É importante salientar que quando o diagnóstico psicopedagógico é realizado na instituição escolar, nem sempre é necessário fazer a entrevista com os pais. A decisão a respeito de realizar ou não essa entrevista deve ficar a critério do psicopedagogo nos casos em que os problemas de aprendizagem são mais graves; nos casos em que a entrevista pode esclarecer pontos importantes do diagnóstico.
ENTENDENDO A SEQUENCIA DIAGNÓSTICA
O diagnóstico psicopedagógico constitui-se de momentos diferenciados, mediante necessidades específicas de cada caso, estruturando-se obedecendo a uma sequência, como temos Weiss 92007) propõe a seguinte sequência de diagnóstico a ser modificadda segundo as necessidades de cada caso:
- Entrevista familiar exploratória situacional;
- Anamnese;
- Sessões lúdicas centradas na aprendizagem;
- Complementação com provas e testes (quando necessário);
- Sintese diagnóstica – Prognóstico;
- Devolução – Encaminhamento.
Com base em experiências de trabalhos psicopedagógicos propomos para o diagnóstico psicopedagógico realizado na instituição escolar.
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Alguns passos da Sequência Diagnóstica
- Entrevista com o (a) professor (a) e com a equipe escolar;
- Entrevista com os pais;
- Sessões lúdicas centradas na aprendizagem;
- E.O.C.A
- Complementação com provas e testes;
- Desenhos e jogos;
- Testes Projetivos Psicopedagógicos;
- Avaliação da leitura e da compreensão leitora;
- Avaliação da escrita (produção de texto e avaliação da escrita ortográfica);
- Avaliação do raciocínio lógico-matemático;
- Análise do material escolar;
- Compreensão Diagnóstica;
- Devoluções (entrevistas de devolução com pais, com o (a) professor (a), com o próprio sujeito;
- Encaminhamentos e Indicações;
- O laudo ou Informe Psicopedagógico.
Ramos (2004) organiza e sintetiza os elementos do diagnóstico psicopedagógico clínico sugerido por Piaget, Sara Pain, Alícia Fernandes e Maria Lemme Weiss:
- O sujeito e sua família (dados como: genetograma familiar, profissão e escolaridade dos pais, do sujeito, dos irmãos, condições de moradia, condições sócio-econômicas e culturais);
- Motivos da Avaliação (pela família, pelo sujeito, pela escola);
- História de Vida:
- As primeiras aprendizagens (com a mãe ou substituta: mamadeira, colher, andar, jogo, bicicleta, entre outras);
- Evolução geral (concepção, gestação, nascimento, alimentação, controle e aquisição de hábitos, fala, sono, sexiualidade, desenvolvimento psimotor);
- História Clínica (doenças, encaminhamentos, acidentes, cirurgias, internações, tratamentos realizados, problemas visuais e auditivos);
- História da Família Nuclear (pais e irmãos, antes, durante e depois da entrada do sujeito na família, mudanças, perdas, desemprego, separações, nascimentos de irmãos, família reconstituídas, a escola na ideologia do grupo familiar);
- História da Família Ampliada (famílias paterna e materna, influências passadas e presentes sobre os pais e o sujeito);
- História Escolar (creches, escola infantil, escolas regulares e especiais, cursos diversos, entradas, trocas e saídas, alfabetização, metodologia, exigência escolar, auxílio extraescolar, retenções e repetências, observação do material escolar e contato com a escola).
- Desenvolvimento da linguagem (oral, lida e escrita) e de outras aprendizagens (outras áreas);
- Nível de pensamento;
- Aspectos sócioafetivos e familiares;
- Atividade lúdica e modalidades de aprendizagem;
- Discussão dos dados e formulação da(s) hipótese(s) diagnóstica(s);
- Conclusões e Indicações.
Ramos (2004) lembra que o diagnóstico psicopedagógico deve priorizar a compreensão do sujeito em processo de aprendizagem, bem como as possibilidades de intervir nos impasses diante das dificuldades escolares.
O diagnóstico psicopedagógico é um processo que envolve e levantamento e a articulação de sentidos de vários conjuntos de dados, lembra Fonseca (2004) e, dependendo de cada sujeito, das queixas e de cada situação específica, alguns conjuntos de dados poderão ter maior relevância do que outros.
A maior qualidade de validade do diagnóstico, assinala Weiss (2007) dependerá da relação entre psicopedagogo/sujeito: de empatia, confiança, respeito e engajamento.
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A COMPREENSÃO DIAGNÓSTICA
Ao concluir a fase de diagnóstico, o psicopedagogo já tem elementos suficientes para formar sua compreensão diagnóstica, uma vez que já pode ter acesso a informações que o possibilitam uma visão global do paciente e de sua contextualização na família, na escola e em seu grupo social.
A entrevista de devolução deve ser vista como parte do processo eu se iniciou com o diagnóstico e se prolonga no tratamento psicopedagógico. O psicopedagogo deve levar em conta que a dificuldade da devolução não está apenas num relato organizado resultante do processo diagnóstico, mas, como assinala Weiss, principalmente, na grande mobbilização emocional que deflagra nos pais e que já vem acontecendo desde a primeira entrevista.
A atitude do psicopedagogo deve ser compreensiva e acolhedora com os pais. Finaliza-se a entrevista fazendo-se as recomendações, indicações e encaminhamentos necessários. A tarefa do psicopedagogo é buscar a articulação e integração coerente dos dados e de seus significados para chegar, assim, á compreensão diagnóstica.
Referências
RAMOS, Maria Beatriz Jaques. O diagnóstica psicopedagógico. In: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA. Seção Rio Grande do Sul. O olhar clínico na prática psicopedagógica. Porto Alegre: ABPP, 2003/2004, p.25-31.
WEISS, Maria Lúcia Lemme. Diagnóstico Psicopedagógico: avaliação do aluno ou da escola? Revista Psicopedagógica, São Paulo, v.16, n.42, p. 15-20, jul/dez. 1997.
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